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∙ poiein

do sentido da origem. a terra e o homem, o território e a arquitectura

caderno de viagem

encontraram-no na estante desarrumada. era tempo de confinamento e aproveitava-se o recolhimento obrigatório para voltar para dentro e descobrir a casa que o tempo e ritmo, suspensos, permitiam.
entre tantos outros que já não lembrava, este permanecia no maior silêncio. esquecido. iniciou-se uma viagem de encontros. na volta de página, o percurso de uma nova rua que se afigurava. e fui lembrando. lembrei as ruas, a companhia, os lugares visitados. os dias, as horas e os minutos passados. lembrei a cidade, as cores, as pedras, as paredes caídas. estava em Évora, e diante de mim o inusitado encontro com a memória. voltei a percorrer as ruas e a visitar monumentos traçados a caneta preta. no regresso, entendi o poder de um caderno de viagem para quem desenha, mas também para alguém que apenas folheia. pouco importa o que se viu, muito menos a direiteza do traço. o que conta na verdade, é descobrir a atenção do olhar desenhado. o demorado olhar, que procura ver e entender. no agora, com a distância entre tempos, percebem-se as intenções e objectivos conquistados, sobre um caminho que se vai materializando. não é um gosto saudosista, mas sim a lembrança que o presente está aqui, para brilhar.
 
    

continuidades

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         com uma linha, simples e seca, dei o sentido... o que faltava.
         sobre o gesto da linha, a terra.
         a acrescentar. a complementar. a enraizar.

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         uma possível legenda: hoje colhi estas flores. em casa, coloquei-as numa jarra.
         a linha é o traço que dá a continuidade, é o suporte seguro, simples e eterno,
         o "fino cristal da imaginação".

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Um desenho lento e demorado. Cada traço assume a infinidade de uma vida.

Um desenho lento, é a oportunidade de dar espaço ao tempo. De procurar nele, a relação entre cada traço. De encontrar o lugar entre as coisas. Aqui, toma-se o desejo de entender como cada elemento parte de um outro. A forma de um ramo, o crescimento que o transforma, o emaranhado de encontros que transporta, o momento que o individualiza na simplicidade uma folha.

Desenhar com o tempo, é um encontro sucessivo connosco mesmos. Um momento onde a mão toma o sentido do corpo e interiormente não estamos. Deparamo-nos sempre com o passado desenhado, e partimos para o futuro. Transportamos para o papel o outro olhar do que vemos, mas também tudo quanto somos. Em cada ramo, uma parte de nós.

Perenes e verticais, as árvores estão para nós… para estar, conhecer e abraçar.

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